quarta-feira, 15 de março de 2017

A volta do goleiro-assassino




Movidos pela sede de justiça, considerando que a condenação tem que ser eterna e em todos os níveis, acreditando que lugar de bandido é na cadeia, jogando no lixo a necessidade de re-socialização, contrariando princípios cristão e humanos,  alimentando a hipocrisia, alguns setores do futebol brasileiro estão caindo de pau no Boa Esporte, incipiente clube do interior mineiro, pelo fato de seus dirigentes terem contratado o goleiro Bruno.
Ex-presidiário, protagonista de horrendas cenas de homicídio da mãe de seu filho, até então tido como ídolo do Flamengo, clube da maior torcida do país, Bruno encontra-se provisoriamente solto (é preciso lembrar que ele pode ter que voltar ao presídio a qualquer momento), e ganha a oportunidade que outros milhares de goleiros gostariam de ter. Goleiros que nem de longe apresentam os mesmos antecedentes criminais do famoso personagem, mas que gostariam de receber uma chance de inserção no limitado mercado de trabalho (especialmente no tocante à posição de goleiro, onde há lugar apenas para dois ou três em cada clube) que de repente se abre ao Bruno, nem bem ele saiu do presídio.

As perguntas que não querem calar são estas: Bruno, com o histórico violento que tem, merece a chance que o Boa Esporte está lhe dando?  Quem foi capaz de seqüestrar, esquartejar e dar fim ao corpo da mãe de seu único filho encontra-se emocionalmente preparado para desempenhar bem a função de goleiro em um time de futebol? Até onde vale a pena o clube correr riscos de comprometer sua imagem e perder apoio publicitário nesse polêmico caso?

Vamos por parte. No futebol, assim como em outros segmentos da sociedade, Bruno não é caso único de violência. Portanto, se outros violentos também estão no mercado de trabalho, por que ele deveria ficar de fora? Quanto à questão emocional ou psíquica, só quem pode avaliar seu real potencial são os especialistas desses campos. No tocante aos riscos de imagem, o Boa Esporte já está perdendo alguns patrocinadores, mas tem recebido uma compensação que não teria se usasse o dinheiro do patrocínio para conquistar os espaços que agora a grande mídia, inclusive os blogueiros  como eu, estão lhe cedendo de forma gratuita. Assim, no aspecto mercadológico, o Boa Esporte tem muito mais a ganhar com Bruno do que sem ele. Além do mais, os dirigentes do clube o estão contratando para jogar, não para se casar com uma de suas filhas. Fosse este o caso, certamente pensariam mais e melhor antes de assumirem os riscos.
Num meio em que basta haver um clássico para se instaurar o caos social, com quebra-quebra, depredação de patrimônio público, espancamentos, e assassinatos, é um contra-senso decretar a condenação ao trabalho a Bruno sob a alegação de que ele é um assassino cruel. Sobretudo porque o fato de ele voltar a jogar não significa dizer que estará livre da condenação judiciária, que pode demorar – como de fato demora em nosso Brasil-, mas virá. Deixemos o goleiro-assassino trabalhar. Ou será que este é o primeiro caso de prisão perpétua no Brasil? Afinal, se Bruno está em liberdade, mesmo que provisória, que desfrute dela.
Por fim, que a galera use o direito de chamá-lo de assassino sempre que ele aparecer para jogar.

Em tempo: o enorme espaço que a grande mídia tem oferecido a Bruno desde que ele deixou a prisão, o transformaram em celebridade. Um reflexo disso são as selfies que crianças e famílias tiraram com ele ontem e que estão estampadas na edição de hoje do conceituado jornal Folha de São Paulo.