Movidos pela sede de justiça, considerando que a condenação
tem que ser eterna e em todos os níveis, acreditando que lugar de bandido é na
cadeia, jogando no lixo a necessidade de re-socialização, contrariando
princípios cristão e humanos,
alimentando a hipocrisia, alguns setores do futebol brasileiro estão
caindo de pau no Boa Esporte, incipiente clube do interior mineiro, pelo fato
de seus dirigentes terem contratado o goleiro Bruno.
Ex-presidiário, protagonista de horrendas cenas de homicídio
da mãe de seu filho, até então tido como ídolo do Flamengo, clube da maior
torcida do país, Bruno encontra-se provisoriamente solto (é preciso lembrar que
ele pode ter que voltar ao presídio a qualquer momento), e ganha a oportunidade
que outros milhares de goleiros gostariam de ter. Goleiros que nem de longe
apresentam os mesmos antecedentes criminais do famoso personagem, mas que gostariam
de receber uma chance de inserção no limitado mercado de trabalho
(especialmente no tocante à posição de goleiro, onde há lugar apenas para dois
ou três em cada clube) que de repente se abre ao Bruno, nem bem ele saiu do
presídio.
As perguntas que não querem calar são estas: Bruno, com o histórico violento que tem, merece a chance que o Boa Esporte está lhe dando? Quem foi capaz de seqüestrar, esquartejar e dar fim ao corpo da mãe de seu único filho encontra-se emocionalmente preparado para desempenhar bem a função de goleiro em um time de futebol? Até onde vale a pena o clube correr riscos de comprometer sua imagem e perder apoio publicitário nesse polêmico caso?
Vamos por parte. No futebol, assim como em outros segmentos
da sociedade, Bruno não é caso único de violência. Portanto, se outros
violentos também estão no mercado de trabalho, por que ele deveria ficar de
fora? Quanto à questão emocional ou psíquica, só quem pode avaliar seu real
potencial são os especialistas desses campos. No tocante aos riscos de imagem,
o Boa Esporte já está perdendo alguns patrocinadores, mas tem recebido uma compensação
que não teria se usasse o dinheiro do patrocínio para conquistar os espaços que
agora a grande mídia, inclusive os blogueiros como eu, estão lhe cedendo de forma gratuita.
Assim, no aspecto mercadológico, o Boa Esporte tem muito mais a ganhar com
Bruno do que sem ele. Além do mais, os dirigentes do clube o estão contratando
para jogar, não para se casar com uma de suas filhas. Fosse este o caso,
certamente pensariam mais e melhor antes de assumirem os riscos.
Num meio em que basta haver um clássico para se instaurar o
caos social, com quebra-quebra, depredação de patrimônio público,
espancamentos, e assassinatos, é um contra-senso decretar a condenação ao
trabalho a Bruno sob a alegação de que ele é um assassino cruel. Sobretudo
porque o fato de ele voltar a jogar não significa dizer que estará livre da
condenação judiciária, que pode demorar – como de fato demora em nosso Brasil-,
mas virá. Deixemos o goleiro-assassino trabalhar. Ou será que este é o primeiro
caso de prisão perpétua no Brasil? Afinal, se Bruno está em liberdade, mesmo
que provisória, que desfrute dela.
Por fim, que a galera use o direito de chamá-lo de assassino
sempre que ele aparecer para jogar.
Em tempo:
o enorme espaço que a grande mídia tem oferecido a Bruno desde que ele deixou a
prisão, o transformaram em celebridade. Um reflexo disso são as selfies que
crianças e famílias tiraram com ele ontem e que estão estampadas na edição de
hoje do conceituado jornal Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário